sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dancer

Ao som da música eletrônica tocada incansavelmente dentro daquela boate ele mexia seu corpo em uma dança improvisada cujo único objetivo era atrair atenção . Não sabia dançar, nunca soube. Mas tal fato nunca fora impecílio para que ele entrasse naquele local. Afinal, toda a sua vida girava em torno daquele único estabelecimento. E ele continuava a dançar...

Aos dezesseis começara a frequentar a boate escondido dos pais. Usava uma identidade falsa feita por ele mesmo para conseguir entrar e -até então- apreciar o local probido para sua idade. Aos poucos fora se acostumando com as músicas, as pessoas, os empregados até que, a plenos dezenove já era desnecessário pagar sua entrada, mas por outro motivo...

Ainda sem sua maioridade formada, havia começado a experimentar algumas bebidas que lhe ofereciam no bar, um vício perigoso pois sabia que seus pais nunca poderiam desconfiar. Em suas crises de bebedeira, dormia na casa de estranhos para despistar e sempre deixava avisado que faria algum trabalho na casa de algum amigo.

Ainda dentro da boate, foi apresentado às drogas mais leves e, após -rapidamente- ter se tornado consumidor, às mais pesadas. E começara a lidar com o tráfico para consumo e para comércio, pois, por mais abastada que sua família fosse, ele não poderia deixar que soubessem onde seu dinheiro era aplicado. Seus negócios iam bem, mas seu disfarçe não pôde durar.

A mãe foi a primeira a saber, desconfiada após encontrar drogas no quarto do filho, chamou o pai que o obrigou a se internar, ou a sumir de casa. E ele sumiu. Sabendo que seu "emprego" não seria capaz de sustentar a si mesmo, tampouco seu vício.

E partiu para aquela boate onde tudo havia começado. Ali, ele procuraria por emprego e conseguiria. E, de certa forma, ele conseguiu. Entretanto, agora a casa era frequentada por outro tipo de pessoas em busca de uma diversão maior do que dançar ou beber. A infrestrutura também havia mudado e alguns quartos foram instalados no terceiro andar. Um deles seria sua casa, e também seu escritório particular.

E enquanto era vigiado pelos seguranças para não poder mais sair, ele poderia comercializar e ser mercadoria ao mesmo tempo, lucrando uns trocados em troca de sua integridade, orgulho e amor próprio, coisas que há muito tempo já havia perdido. Preso em uma cela que ele mesmo havia procurado, mas da qual sair não estava a seu alcance.

Ao som da música eletrônica tocada incansavelmente dentro daquela boate ele mexia seu corpo em uma dança improvisada cujo único objetivo era atrair atenção . Não sabia dançar, nunca soube. Mas tal fato nunca fora impecílio para que ele entrasse naquele local. Afinal, toda a sua vida girava em torno daquele único estabelecimento. E ele continuava a dançar...

sábado, 17 de outubro de 2009

Chuva

A chuva caía em pancadas fortes que escorriam pelos esgotos ou acumulavam-se nas poças daquela rua. E aquela casa branca, enegrecida pela escuridão da noite, parecia ser tão segura e quente que, vista de fora era o abrigo perfeito para qualquer um que procurasse fugir da chuva. Entretanto estava ele lá, uma figura sentada à porta com o rosto entre os joelhos e abraçando as pernas. Não era um pedinte, era apenas alguém que sofria por amor.

Eles haviam se conhecido por amigos em comum. Ela, a garota dos sonhos para qualquer homem. Inteligente, linda, e com uma personalidade marcante mas sem deixar de perder sua feminilidade encantadora e a alma de uma menina sonhadora e romântica. Ele, nunca havia pensado em se envolver com alguém. De certo que não era por falta de atributos. Um jovem bem apessoado, responsável, estudioso e educado. Mas como todos, tinha seus defeitos. Não era de ninguém, se envolvia apenas por diversão e nunca se comprometia com ninguém. Até encontrá-la.

E eles se encantaram mutuamente e viveram por um bom tempo felizes, se amando e se completando. E ele havia mudado por ela. Sutilmente, mas havia. Toda sua vida de conquistador havia sido deixada para trás e parecia não fazer mais sentido depois de conhecê-la e provar o gosto do amor. E ela o havia visualizado como o homem dos seus sonhos, aquele príncipe encantado com o qual toda menina sonha adquiria mais e mais semelhanças com ele dia após dia. E eles viviam a se completar e a se amar.

Só que a felicidade incomoda a quem não consegue obtê-la. E ela foi dar ouvidos a aqueles que não suportam o amor, ou aqueles que não amam,ou não sabem amar. " Ele é homem, e nunca vai mudar", "...você realmente acha que ele deixaria de curtir como antes por sua causa?", "você seria muito burra se acreditasse que ele não está te traindo". E o ácido veneno contido nas palavras pode transformar em ruínas os mais fortes castelos. Também acabara de arruinar os sonhos daquela que agora sofre do lado de dentro da porta de madeira, após expulsar seu amado príncipe de seu refúgio, agora solitário.

Ele ainda havia tentado se explicar, dizer que não era verdade, mas foi em vão. Ao ouvido dos inseguros, mais valem palavras de estranhos do que aquelas de quem se ama. E ele desistira de tentar convencê-la, estava ferido também, afinal, mudara tanto por ela e ela não conseguia enxergar todo o processo!? Ele apenas queria abraçá-la e fazê-ela sentir o calor de seus braços, e com esse calor fazê-la descobrir a resposta. Mas ela não queria, e o mandou embora de sua vida.

Ela agora, recostava-se na porta e encarava a parede enquanto as lágrimas escorriam por seus olhos. Ouvia apenas a batida desesperada daquele homem se silenciar, dando vez ao som da tempestade. Tempestade que a invadia por dentro e pesava em seu coração. Logo ele que ela tanto amava, logo ele que a amava tanto, "por quê isso?". "Será que eu fiz a coisa certa?". "Ele foi tão bom comigo esse tempo todo" "...ele nunca fez nada do que elas disseram". E as palavras que brotam da alma devem ser colhidas e usadas para consertar os erros da vida.

Mas ainda chovia lá fora....

E ele ainda estaria ali, plantado na porta daquela casa enquanto a tempestade agredia seu corpo. às vezes sentia vontade de um raio acertá-lo e acabar com seu sofrimento. Talvez conseguisse se sentir menos culpado se algo assim acontecesse. Os erros do passado são postos à parte quando se renasce, e ele havia renascido por amor. Mas ainda não conseguia enxergar a razão de tudo voltar à tona justo quando ele havia percebido que tinha feito a coisa certa. Já não sabia se era tão certa assim mais...

...Mas a vida sempre mostra, e recompensa, quando se faz a coisa certa, e pelo motivo certo. E agora, estava ele voltando sua cabeça para a porta, após escutá-la se abrindo. Seus olhos encontraram os dela, que estavam avermelhados e continham uma súplica de perdão e algumas lágrimas de arrependimento.

...

-- Vem Pedro, sai dessa chuva, amor...

sábado, 5 de setembro de 2009

Nostalgia

O dia já havia chegado e ele ansiara tanto por isso que até as horas contava para que tal dia chegasse. Uma reunião, como as que costumava fazer com os amigos do passado - amigos estes que voltariam para sua casa. Um filme qualquer, várias histórias, pipoca e brigadeiro, risos, felicidade. E ele esperava por isso.

Fazia muito tempo que não se divertia como naquelas antigas reuniões com o pessoal do passado. Amigos de escola que sempre se reuníam na mesma casa para a mesma coisa. E ainda assim a tradição sempre se inovava, sempre tão igual mas tão diferente uma da outra. Tão singular que cada lembrança trazia um sorriso diferente no rosto daquele garoto.

Seus dias estavam tão monótonos ultimamente. Nada de sorrisos, nada de diversão. Só aquele vazio de sempre que a rotina cuidava de preencher. Trabalho, escola. Vez ou outra alguma leitura por lazer, mas o lazer solitário acaba deixando de ser de verdade quando não desperta mais liberdade, e sim clausura. Mas tudo mudaria naquele dia.

O filme já havia escolhido - uma comédia romântica adolescente - e agora era só esperar o som da campanhia que começaria a tocar a qualquer momento. Afinal, seus amigos sempre es atrasavam então nada custaria esperar por mais dez minutos, quinze minutos, meia hora, uma hora.

E eles não chegaram. Os amigos - fantasmas do passado - nem ao menos se importaram de avisar que não viriam e ele ficou só em sua reunião. O filme passava na tela enquanto ele comia a pipoca com um brilho a mais nos olhos. Nostálgico, não lacrimal pois, aprendera sua lição.

O passado fora maravilhoso enquanto passado, os amigos foram imprenscindíveis enquanto amigos - coisa que, com o tempo, deixaram de ser. Mas acima de tudo, a reunião sempre existirá enquanto ele se dispôr a fazê-la.

Aquela mesma felicidade poderia existir novamente, precisava deixar o passado emoldurado num porta retratos para ser admirado com algo bom, mas que já se perdera no tempo. Precisava, sobretudo, livrar-se da segurança que o passado lhe dava e partir para o novo, para os novos amigos, para as novas reuniões, para o recomeço.

Enquanto isso, ele ainda assistia à uma comédia romântica e comia pipoca sentado- arrumado demais para quem está sozinho em casa - no sofá da sala. O brilho em seus olhos não admirava mais o passado, mas ansiava pelo futuro, pelo recomeço.

E tudo mudou naquele dia.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Raposa

Paredes têm ouvidos, mas não podem falar. E aquelas paredes já haviam escutado tantas conversas que até conseguiam prever o que seria dito pelos habitantes daquele bar da Zona Sul. Um típico bar, de uma típica esquina, com uma típica clientela, um típico atendimento e uma típica atmosfera. Mas todos os tipicismos daquele bar foram por terra quando aquele demônio em vermelho pôs seus pés naquele lugar.

Era como se tudo parasse naquele mesmo instante, só para receber aquela visitante inesperada. Movimentando-se graciosamente como uma raposa, ela dirigia-se ao balcão, pedira a bebida mais forte que reconhecera e ficara ali, a observar o lugar que acabara de entrar. Por seu sorriso diabolicamente malicioso, era notório que ela havia percebido que todos, sem a menor exceção, estavam olhando admirados para ela.

Pele convidativamente clara, olhos da cor do mogno e cabelos enegrecidos como a noite. Podia-se dizer que era alta, mas não exageradamente, e as curvas divina ou diabolicamente esculpidas de seu corpo a tornava tão proporcional como mulher alguma poderia ser. Seus lábios vermelhos arqueavam num sorriso tentador, como em um desafio mudo a qualquer um a tomar aqueles lábios e aquele corpo. A figura de um demônio, daqueles que não só conduzem ao inferno, mas também faz seu prisioneiro gostar da idéia.

Tomou seu drinque em um só gole, e esperou o primeiro a se oferecer para pagar. Observou o homem que levantara de sua cadeira para tal e assentiu com um aceno . Antes que ele pudesse falar algo ela já o havia puxado para si e o devorava em um beijo selvagem, lascivo e deliciosamente pecaminoso.

Passava suas mãos pelo corpo do rapaz enquanto espectadores consternados nem ao menos tentavam sair do transe que tal cena causava. Intercalava os beijos com leves mordidas no lábio dele, ou no lóbulo de sua orelha, garagalhando maliciosa e lascivamente com os gemidos causados por isso. Ela se divertia com seu novo brinquedo, sua nova presa.

Puxou-o para o único banheiro do bar e fechou a porta. Apenas os gemidos de uma predadora divertindo-se com sua caça podiam ser ouvidos.

Saiu de lá impecavelmente intacta, como se nada tivesse acontecido enquanto deixava um homem completamente devastado à porta do banheiro. Ainda com um sorriso em seus lábios, andou rumo à saída do bar enquanto percebia que todos ainda continuavam embasbacados, o que a fez aumentar levemente o seu sorriso. Saiu dali, e aquele bar nunca sentiu-se tão vazio quanto àquela vez.

O homem saiu em seguida, incomodado com olhares interrogadores. E as únicas testemunhas do ápice da diversão daquele demônio em vermelho que ainda remanesciam naquele lugar eram as paredes de um banheiro de bar.

Paredes têm ouvidos, mas, infelizmente, não podem falar.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O andarilho

[Esse foi um dos trabalhos que eu produzi para a faculdade no período em que estive ausente(realmente precisei, por vários motivos). Espero que gostem]

O Andarilho


Ele agora contemplava sozinho o nascer do Sol das areias da praia de Copacabana. Figura que muito poderia ser confundida com um andarilho mendigante - exceto pelos trajes - mas que não era nada mais do que um admirador da vida, e de todas as faces que ela, impassivamente, consegue mostrar.

Seus pés o trouxeram ali após a caminhada pelas ruas do Rio de Janeiro durante a noite. Havia saído de seu apartamento com o único desejo de sair do ócio, para o ócio. Uma simples vontade de sair, sem pensar no quê pensar, e apenas aproveitar não pensar, ou pensar em nada, ou apenas aproveitar. Que entendam tal atidude aqueles que reconhecem o prazer contido no flâneur.

Deve ser dito, entretanto, que tal ímpeto fora deveras cingido de coragem ou sandice pois, as Ruas do Rio de Janeiro não são as mesmas de uma bélle-epoque tão distante e distinta. E só aos corajosos ou aos loucos, cabe o mérito de aventurar-se em tais lugares. Bentido sejam os loucos, pois os corajosos não o sabem aproveitar.

O fato era que saiu. E ao andar, divagava como amava aquele pedaço de inferno e de paraíso. As ruas escuras e sujas por onde tantos passam indiferentemente ganhavam significado sob a luz do luar, contando-lhe histórias reveladas sob cada traço de lixo deixado no chão. Os bares, onde ainda se encontravam bêbados felizes apenas por estarem bêbados, que a realidade era triste e opressora demais para suportar. E os donos de bares, que, mesmo ao lidar com embriagdos, ainda sentiam-se apiedados ao recusar-lhes mais do néctar da lucidez, temendo causar-lhes mal, ou vê-los padecer ou desmaiar em suas portas. E as mulheres, as damas - ou aparentemente damas - que vislumbrava pelo caminho. Cada uma, em seus corpos torneados e quase desnudos que traziam um convite indiscreto, e um preço a combinar. Tais moças, fariam Baudelaire sangrar as mãos de tantas passantes que pudera descrever.

Há de se perceber que moças como as tais somente circulam pela noite pois é na noite que têm sua vida. Mesmo que esta vida lhes seja seu tormento. Coisa que elas, a um simples passante - e provável cliente - nunca iriam-lhe revelar, nem com palavras, nem com qualquer expressão. Mas ele continuava a caminhar.

Achou-se andando sem rumo pelas praças e construções antigas. Colossos de um passado belo e observadores de uma mudança avassaladora. O Rio já não era o mesmo Rio. O verde era tomado pelo cinza, a calmaria pelo tumulto e a amistosidade pelo medo. Entretanto, à noite, aquela mesma transformação podia ser vista ao contrário. Onde os prédios se apagam e o brilho do luar incide sobre as árvores remanescentes, onde o tumulto das multidões é aquietado pelo silêncio do sono e o medo desaparece ante à amistosa embriagez dos cambaleantes que ainda ocupam as ruas. Deu-se conta de aquela cidade seria sempre dúbea, por mais que desatentos não pudessem notar.

Por fim, encontrou-se admirando a orla e os prédios que fixavam-se lá. Sentado no chão de areia da praia. Pensava - e agora sentia o prazer em pensar, depois da inspiração provocada pelo ócio - em como aquela cidade havia sido várias e ao mesmo tempo mantinha-se uma. Unicamente maravilhosa, com seus habitantes, noturnos ou diurnos, e com aqueles que não se permitem revelar. Aos poucos, sentiu a brisa da aurora enquanto o astro-rei ensaiava seus passos por sobre o mar. Sentado ali estava, ao lado de uma palmeira, onde um dia um sabiá pôs-se a cantar.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Paris espera

Ele deveria estar feliz já que os trabalhos em Paris foram confirmados na ligação que acabara de receber. A semana de moda daquela cidade era a mais importante de toda Europa, talvez até a mais importante do mundo. E, para um modelo iniciante, ou um "new face" como eram chamados todos os principiantes, era a certeza de uma carreira brilhante pela frente. Mas o mais brilhante que ele podia enxergar era o brilho de tímidas lágrimas que residiam presas em seus olhos azuis refletidos no espelho de seu banheiro.

Não conseguia acreditar como algo que não era seu sonho havia se tornado seu cárcere, se é que prisão alguma o obrigasse a sorrir e parecer feliz tanto quanto aquela o fazia. A carreira de modelo foi algo para ganhar dinheiro e ajudar a família, e de certa forma ainda é. O grande problema é que, ajudar a família implica agora em prejudicar-se. Não como um conhecido seu, que ganhava trabalhos às custas de "generosidades" com o dono da agência, mas prejudicar-se ao esconder todo seu sofrimento atrás de um sorriso perfeito.

Um corpo sem alma, era só isso que ele havia se tornado. Desfiles, mudança de postura, mudança de amigos (por dificuldades em achar tempo), mudança de estilo (um modelo deveria se vestir adequadamente), mudanças... Tantas que achava difícil saber quem era aquele garoto que se divertia nas tardes de sexta jogando bola com os amigos sem se preocupar se estava com a postura certa ou a roupa adequada. As sextas do futebol haviam sido trocadas por fins de semana inteiros em festas na companhia de estranhos, contatos, como um colega costumava dizer. Gente importante demais e interessante de menos. Podia ser difícil aceitar, mas eram aquelas pessoas ocas que estavam mais próximas de serem chamadas de amigos.

Passava as horas que conseguia deitado em sua cama olhando para o teto. Em parte era pela dor dos exercícios físicos puxados para garantir um corpo definido rápido, mas o grande motivo era a vontade de se isolar desse mundo no qual se meteu. Não tinha nem mais vontade de encontrar um amor. Se as mulheres com as quais saía, cresciam os olhos para o modelo, não para quem ele realmente era. Além do mais, era difícil encontrar uma modelo que não gostasse daquele mundo vazio e, quando encontrasse, provavelmente ela teria uma vida tão corrida quanto a dele. Então desistiu. E ficava em casa, deitado, ouvindo música. Recentemente adquiriu gosto por Chopin, que substituiu Vivaldi e suas quatro estações.

Saudades? Tinha sim. Do tempo que era um moleque e era "adequado" ser assim. Do tempo que se divertia e que todos os seus sorrisos eram sinceros, e não armados. Do tempo que um bom churrasco com futebol ouvindo música de velho (para que ninguém desconfiasse que gostava de música clássica) com os amigos. De quando uma garota gostava dele mesmo, e não do mais promissor "new face" da melhor agência do Rio de Janeiro. Do tempo em que podia ser triste sem que ninguém o dissesse para mudar o rosto pois sairia "feio" na foto. Do tempo que podia ser ele mesmo, sem ser apenas um boneco de carne e osso.

Segurando agora uma foto com seus pais, tirada após seu primeiro desfile, ele pensa que ao menos para alguém valeu à pena. Agora sua mãe não precisaria mais trabalhar fora e poderia descansar das responsabilidades da vida. O dinheiro ainda não dava para seu pai largar um dos dois empregos mas, com esse trabalho em Paris, com toda a certeza daria. Ele agora não podia mais chorar, nem sorrir. Não é permitido sentimentos numa passarela.

Terminou de arrumar suas malas e foi para o aeroporto. Lá encontraria os outros modelos que iriam com ele para Paris. No caminho, limpou a última lágrima que derramaria por aquela situação toda. Tirando o seu celular do bolso discou para o último número que discaria antes que tudo acabasse.

-- Alô, mãe?
-- Oi, que bom ouvir sua voz, meu filho!
-- Mãe, eu só tô ligando pra avisar que tô indo pra Paris. Lembra daquele trabalho que eu falei pra senhora?
-- Lembro sim, meu filho. Que bom que você conseguiu! Seu pai vai ficar muito feliz quando souber!
...
-- Pois é, agora tenho que desligar, já cheguei no aeroporto. Beijo, mãe. Tchau!
-- Boa sorte e boa viagem, meu filho, um beijo! E eu tô muito orgulhosa e feliz por você, viu? A Mãe aqui te ama, viu? Vai com deus!

Realmente pensou em terminar tudo e mandar o motorista do táxi mudar de direção (para alguma ponte da onde ele pudesse se jogar, ou estrada, para ele se deitar nela) . Mas só em ouvir a voz de sua mãe e a entonação da felicidade explícitada na voz dela, esqueceu, por agora, tais pensamentos. Paris ainda o esperava, enquanto ele, não podia esperar mais nada daquela vida.

sábado, 18 de abril de 2009

Burguesinha

(aconselhável ouvir a música do player enquanto se lê o texto)



A noite só estava começando e ela queria somente se divertir,sem se preocupar com nada. Algo entre se distrair dançando ou conversando em uma festa da alta sociedade, ou fazer o mesmo em algum clube caro, ou até mesmo na pista VIP de alguma boate badalada. Seguiu em frente pois ela ainda não sabia onde parar, talvez quando achasse algo interessante, ou quando ficasse entediada de procurar.

A tarde serviu para se preparar para o agito, e para usar o motorista. Como a manhã para ela não existe, era o único tempo disponível mesmo. A Rua Oscar Freire foi sua passarela. Vestidos, acessórios, óculos, cabelo, maquiagem, presentes para as (falsas e compradas) amigas. Vez ou outra uma ligação para o pai, um empresário milionário com sede em Nova Iorque que compensava a ausência com o que ele chamava de "mimos". Ela preferia uma 5th Avenue, mas a mãe sempre optou por mantê-la no Brasil. "País cafona", segundo a filha.

Não se imporatava muito. Queria mesmo era se divertir naquela noite. Teve um quase-jantar em algum restaurante sofisticado assim que saiu da clínica de estética, já às 19h da noite. Chegou em casa e trocou-se o mais rápido que pôde, ou seja, em duas horas e meia. Ainda estava cedo, mas ela iria mesmo assim.

A estrada livre. O motorista dispensado e na companhia de mais duas amigas. 40km além do permitido e com a justificativa de precisar de adrenalina para se divertir. Todas levemente embriagadas cantavam alegremente alguma música remixada do Seu Jorge, sem se importar com a letra, muito menos com a estrada. Ela seguiu sem nem ao menos se preocupar com a pista, o tráfego ou a sinalização. Até sentir o choque contra um objeto qualquer.

Saiu do carro para constatar o óbvio. Um atropelamento. Algum imbecil que se achou no direito de passar pela faixa de pedestres na frente do carrro dela quando o sinal estava vermelho para automóveis. "Meros detalhes sem significância". E ela ainda não entendia como sempre era vítima de desgraças como a acontecida. Resolveu por deixar o ferido por lá mesmo. "Se ele quis se arriscar ao passar, que sofra as consequências". Qualquer problema que ela pudesse ter se resolveria com uma ligação internacional mesmo, qual a razão de se preocupar?

A noite só estava começando e ela queria somente se divertir,sem se preocupar com nada. Algo entre se distrair dançando ou conversando em uma festa da alta sociedade, ou fazer o mesmo em algum clube caro, ou até mesmo na pista VIP de alguma boate badalada. Seguiu em frente pois ela ainda não sabia onde parar, talvez quando achasse algo interessante, ou quando ficasse entediada de procurar.

sábado, 21 de março de 2009

Corpo sem alma

Seus olhos marejados pareciam trancafiar as lágrimas para que estas não rolassem por seu rosto angelical. Seu corpo ainda sentia espasmos que a lembravam de todos os acontecimentos daquela chuvosa noite. Em seu quarto, ela tentava se reerguer pois não tinha muito tempo, ainda havia trabalho a fazer.

O conhecera há uns dois meses. Ele, casado, e sofrendo por isso. Ela, comprada apenas para ser uma válvula de escape, um brinquedo nas mãos de uma criança que não sente mais alegria. Mas ele não conseguia, talvez não queria brincar, a primeira noite foram apenas bons amigos e confidentes. Ela, uma boa ouvinte, coisa que a profissão lhe ensinara, chegou até a comover-se de tão triste homem. Preso a um casamento em ruínas e, mesmo que não concordasse com a solução que ele buscara, nunca o falaria. Não o poderia condenar.

Algumas noites e ele voltara. Ainda ansiando por uma ouvinte, e assim foi por uma semana, tanto que ela até se sentira mal por tirar-lhe o pagamento que era dela por direito. A última sexta daquela semana foi selada por um beijo, não um beijo mecânico como a ela era de costume, mas algo que sentia vontade de fazê-lo. E ele, de retribuir. E a ouvinte passara a amante. Até perceberem que existia um sentimento mais forte que apenas laços amistosos ou profissionais .

Por noites ela ansiava por isso. Em seu quarto, e também escritório, ela contava os minutos para chegada daquele que, ao menos a traria conforto, e até esperança, coisa que nenhum outro antes fora capaz de trazer. E ela entregava-se a ele. Deixava de ser apenas uma profissional para entregar-se ao prazer ofertado e recebido. Imaginava-se com ele nos momentos difíceis que sua profissão lhe proporcionara e até mesmo em sonhos, estes, que lhe traziam uma prazerosa calmaria pelas manhãs.

Por tempos nutriam um sentimento acima de qualquer coisa que ela conseguia se recordar. Ansiava por suas ligações, agora em um número de celular pessoal, diferente do primeiro, que era apenas para assuntos profissionais. Passavam horas falando ao telefone. Ele ligava, ela não o podia fazer, mas sabia esperar. Seus sonhos aos poucos, tornaram-se planos, por ele compartilhados, e apenas uma visita a mais para se concretizar.

Até que ele lhe veio visitar. Poucas palavras. Aquela tal esposa estava grávida. Dois meses e meio. E ele, mesmo tendo planejado uma nova vida ao lado daquela que o completava, viu-se obrigado a jogar sua felicidade fora pela felicidade de algum inocente que está por vir. Nunca mais a procuraria. Em lágirmas disse as últimas palavras, as selou com um último beijo e partiu. Deixando lá, sua felicidade. Junto ao coração da mulher que amava. Mulher esta que não chorava, mas sentia-se, agora, vazia, sem esperanças, sem felicidade, sem vida.

Ainda eram nove e vinte da noite, haviam mais outros sujos a esperando. Apenas uma válvula de escape. Um corpo que deixara seu coração partir(-se) com um homem sem esperanças, mas com o peso do futuro, mesmo que este futuro não seja o dele, mas de um inocente que ainda está por vir.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sonhei com você

Hoje sonhei com você. Foi um sonho tão bom que, ao acordar, tinha um sorriso no rosto e , só de lembrar do sonho, mantive esse sorriso por todo o dia, inclusive agora. Você estava linda, e o melhor, estava comigo. Nós dois juntos numa casa de campo. Estava tão frio que você se agarrava a mim buscando o calor do meu corpo, enquanto só a minha felicidade de ter você em meus braços me aquecia tanto, que sinto que poderia encarar nevascas, trajado com roupas de verão (afinal, era um sonho, ou não?).

Quando acordei, adiantei todo meu trabalho. Afinal, só lembrar do sonho que tive e qualquer coisa; ruim, chata ou trabalhosa; vira poeria perto de momentos tão bons. Como trabalho em casa, meu trabalho havia acabado antes da hora do almoço, e resolvi me dar uma folga. Fiquei pensando em transformar esse sonho em novela, ou até mesmo em seriado, e vendê-lo para alguma grande emissora. Mas parei. Por mais bem filmado, dirigido, ou escrito, não seria o mesmo. Nem a mais bela atriz pode ser comparada à você. E nenum roteiro seria tão envolvente como esse sonho. Então parei.

Pensei em chamar você para assistir um filme aqui em casa. Aquelas coisas bobas que casais apaixonados fazem. Um filme qualquer, sei bem eu que você prefere uma comédia romântica, e é o que prefiro também. Eu faria a pipoca, e não poderia esquecer do refrigerante. Afinal, gostamos tanto de pipoca que precisamos de alguma bebida para depois. Se bem que pouco me importaria deixar a pipoca toda para você (entenda que isso é muito,vindo de um viciado confesso em pipoca), contanto que pudesse ver você sorrindo enquanto assiste o filme, ou sentir seu corpo chegando mais perto nas cenas românticas, ou sentir seus lábios colados aos meus... Mas quando peguei o telefone, lembrei que era feriado, e todas as locadoras fecharam, justamente quando emprestei minha coleção de filmes a um amigo .

Fitei o telefone em minha mão direita. Ele parecia tentador. Não que eu a fosse convidar a vir apara minha casa (e fazer o quê?). Seria óbvio e malicioso demais o convite e não é isso o que eu quero. Eu só queria você aqui comigo, ou ao menos ouvir a sua voz. Olho mais uma vez para o objeto em minha mão e penso que seria uma boa idéia ligar, só para contar o sonho, falar baboseiras, futilidades ou o que fosse, eu só queria ouvir sua voz, não importava o que dissesse. E com o telefone já no ouvido, iniciei o ritual telefônico.

Mas qual número discar? Revirei minha cabeça procurando pelo seu número e não achei. Tentei lembrar seu nome e também foi em vão. Tentei me recordar de quando nos encontramos, mas esta foi minha perdição. Nunca nos encontramos, e eu aqui, feito bobo, sonhei apaixonado com alguém que talvez nem exista. E larguei o objeto em minhas mãos.

Mas talvez você exista sim, só para mim. Ou quem sabe, também sonha comigo (, sem saber quem eu sou)? Eu queria ao menos conhecê-la, vê-la passando numa rua, ou encostada num assento de bar, ou fazendo compras na livraria da esquina, certamente nos esbarraríamos lá. E eu sei que já a amo, só preciso agora encontrar você em alguma mulher.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

No carnaval de Salvador

A música daqui é contagiante. Realmente, as ruas, as pessoas, ou melhor, a pipoca, como eles chamam, a atmosfera, tudo aqui é propício para se desprender dos problemas e ser feliz. E também , é claro, pra se apaixonar.

Eu? Claro, sigo o trio, no circuito Barra-Ondina enquanto minhas pernas aguentarem, ou enquanto eu ainda lembrar que tenho pernas. Mas o cansaço não é preocupação. Estou muito entusiasmado com o carnaval de Salvador. A folia é muito diferente de São Paulo, ou do Rio. Aqui não existe competição por escolas ou títulos, aqui todo mundo se diverte e todo mundo é um só povo, uma só alegria.

E é claro que também todo mundo é de todo mundo. E foi com esse pensamento que eu comecei a procurar alguém para ser minha, mesmo que por uma música. A folia era tanta que, às vezes até me esquecia que estava procurando, e me divertia só em pular com os meus amigos, que me convidaram para este lugar. Até que eu a vi.

É comum gente da pipoca ir fantasiado, mas ela era algo que se destacava. Uma fada rósea, morena e brilhante no meio de uma selva de abadás verdes. Ao olhar já fiquei meio que paralisado, digo meio pois meu corpo ainda teimava em pular ao ritmo da música enquanto meu cérebro processava se aquela beleza escultural era mesmo verdade ( e ambém procurava ver se estava sozinha). Olhando (embasbacado, eu diria), percebi que ela também me olhou de relance e, (imagino ter visto que ela) sorriu, um sorriso tímido, que poderia ser por qualquer outra coisa, mas eu entendi como um convite, e aceitei.

Fui chegando perto e percebi que ela virava seu corpo em minha direção, como se esperasse que eu fosse até lá e, ao estar a dois passos de enlaçá-la, vejo seus braços me puxando para um longo, demorado e apaixonado beijo. Não ouço mais a música, acho que tem algo como "eu quero mais é beijar na boca..." mas não sei ao certo. O que sei foi que toda aquela multidão pareceu sumir, ou melhor, como se aquela fada fosse capaz de me fazer voar por sobre o trio enquanto nos enlaçávamos e nos beijávamos fervorosamente. Pude sentir o mel em seus lábios, e pude sentir o movimento hipnótico de sua língua massageando a minha dentro de nossas bocas. Até que ela parou.

Disse que iria comprar uma cerveja e logo voltaria. Não me importei e continuei curtindo (quase que) normalmente a música que, após os beijos, voltei a escutar. Se eu a vi depois? Sim, estava enlaçando outro uns dez minutos depois, acho que a uns três ou quatro metros de distância de mim. E eu não me surpreendi por não me importar, afinal, tinha uma ruivinha maravilhosa que me chamava com o olhar eu eu, certamente, não iria perder a chance de me apaixonar novamente, mesmo que pelo tempo de uma música.


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Fiquei um tempo afastado, mas não pude deixar de postar esse texto sobre o carnaval que escrevi esta manhã e nem ao menos revisei(qualquer erro, desculpem-me). Bom, até o próximo texto, então. E não esqueçam de comentar!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Até amanhã

Olá. Não irei mais me desculpar por um tempo sem postar pois sempre acabo fazendo isso, então, espero que entendam e, caso queiram saber quando eu posto alguma coisa, assinem o feed ou então me peçam pra avisar, que eu aviso sem problemas.
Antes do post, eu queria falar uma coisa sobre os selos que os blogueiros costumam trocar como presentes. Eu, como todo ser humano, gosto de um agrado e realmente agradeço aos que me dedicaram um selo, mas não os colocarei aqui no blog. Sinceramente, não sei o porquê disso, simplesmente não gosto desses selos (mas aprecio e agradeço imensamente o carinho que os blogueiros que me presentearam com estes), não há um motivo em especial e espero que possam entender (mesmo assim, muito obrigado Fabioc e Dudalak).
Agora sim venho falar do post. Nossa, fiquei um mês sem postar nada, mas escrevi bastante coisa diferente então espero não ter que parar por tanto tempo. A música desse texto é "Anjo"(Banda Eva),mas ouvi-la aida continua opcional. Leiam e tirem suas próprias conclusões:


Até amanhã


As gotas de chuva relutavam em cair do céu, mas estavam lá. O tempo nublado não a incomodava, pensava mais em guardar para si as próprias lágrimas, relutando em deixá-las rolar assim como o céu espesso por sobre sua cabeça. Andava olhando apenas para baixo, como que para se obrigar a prestar atenção no caminho, como para esconder o brilho involuntaramente lacrimal em seus olhos. Ignorava o fato de alguns passantes a observarem, muitos sem tê-la nunca visto, mas um em especial teve suas feições entristecidas ao vê-la. Ela não pôde ver, estava triste demais para isso.

Sua vida poderia ser considerada normal por qualquer um, menos por ela. Tinha amigos, gente que a fazia sorrir e esquecer os problemas por alguns segundos, mas apenas por segundos. Ela não conseguia tirar da cabeça que estava irremediavelmente sozinha no mundo. Sempre fora. Não se achava digna de alguém e quando esse alguém se interessava, ela mesma tratava de arrumar algum defeito, nele ou nela mesma, que impedisse que qualquer tentativa de relacionamento fosse adiante, ou sequer começasse. Era como se, mesmo se achando necessitada, relutava em aceitar alguém, quem sabe o problema estava em aceitar a si mesma.

Ela se achava feia e um pouco fora do peso. Afinal, quase toda mulher acha isso. Mas as imperfeições imaginárias não paravam por aí. Sempre tinha espaço para mais um defeito. Ou era compulsiva, ou desatenta demais. Ora vaidosa ao extremo, ora desleixada. Chegou até a procurar um analista da empresa. Mas saiu de lá quando percebeu que o analista não a estava ajudando em melhorar quando negava que ela tinha tais problemas e apontava todos como uma dificuldade em se aceitar. Ela não estava ali para ouvir isso, por mais que ouvisse de seus amigos também. Ela não queria ouvir, oras! Porque todos não enxergavam que ela era um ser quase que extraterrestre quando estava tão óbvio para ela?

Começava a ponderar sobre isso, sobre a probabilidade ínfima de todos ao seu redor estarem, talvez, certos, talvez. Mas não queria pensar sobre isso. Aliás, não queria pensar em mais nada. Tinha que parar com seus devaneios tristes e voltar pra casa. Ainda tinha trabalho acumulado e uma noite de sono mal dormida para compensar, caso conseguisse. Além do mais, limpar o rosto também era uma opção, já que ninguém acreditaria que simples ciscos fizeram aquela irritação em seus olhos. Voltava a olhar para baixo, lembrando do final de semana, onde finalmente poderia encontrar seus amigos e esquecer disso por algum tempo enquanto assistiam algum filme, comiam pipoca e conversavam alegremente sobre assuntos infantis...

...Os olhos que a acompanhavam pareciam tristes também. E aquele simples passante estacou ao vê-la presa em divagações e com o olhar cabisbaixo. Quisera ele poder abraçá-la e dizer que tudo ia ficar bem se eles ficassem juntos. Já não aguentava mais vê-la sofrer, mas não podia, era um simples amigo, ou era assim que ela o via. E temia ele perder uma amizade por querer mais. Além disso, sabia bem ele que ela evitava relacionamentos amorosos e que o vínculo de amizade era a única coisa que o deixaria próximo dela, por mais que ele quisesse mais.

Mas ainda tinha o final de semana. Ah! o fim de semana! Os dias pelos quais ele espera por toda a semana só pra vê-la longe de suas tristezas. Do empenho dele ao tentar fazer com que ela sorrisse, e como esse mesmo sorriso compensava todo esforço, mesmo com aquela voz na sua cabeça pedindo por mais. Agora faltava pouco, ainda era uma quinta feira nublada e ele ainda tinha mais uma noite de sonhos enquanto esperava pela sexta.

Continuou seu caminho não sem antes lançar um olhar esperançoso antes de partir e sem conseguir prender simples palavras que teimaram em sair de sua boca e de sua alma:

- Até amanhã, minha "amiga"(, meu amor)...




Espero que tenham gostado e não se esqueçam de comentar. Até a próxima!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Depois de muito tempo sem postar...

Olá,
Depois de um problema com a minha internet, que demorou tempo demais para ser resolvido e depois de uma virose forte que me impediu de sequer levantar da cama, estou de volta. Peço que me desculpem pelo longo tempo sem postar.
Bom,eu ia coplocar mais um texto "não-romantico no blog, mas ,como é ano novo, e eu não quero começar com o clima pesado, o texto que postarei é algo mais leve, espero que gostem.(A música é "De Qualquer Maneira - Isabella Taviani") Leiam e tirem suas próprias conclusões:


Apaixonado

O dia estava claro. Mais uma olhada para o céu e ele veria, por detrás de seus óculos escuros, que o céu estava limpo de nuvens e mesmo assim o sol não castigava com um calor escaldante. Mas isso era fácil de perceber pela brisa suave que parecia segui-lo. Enquanto caminhava tranquilamente pela rua à caminho de casa olhava, sem realmente enxergar o rosto de alguns passantes,uns indiferentes, e outros que sorriam ao vê-lo, mesmo sem nem ao menos conhecê-lo. Não que ele pudesse notar,sua mente planava enquanto pensava em coisas bobas e sem muita importância . Mal notara que, ao caminhar, estampava um sorriso bobo no rosto. O sorriso dos apaixonados.

Horas atrás ele acordara com ela em seus braços,abraçando-a pelas costas,enquanto ela pareca ainda descansar angelicalmente. Podia sentir o perfume suave de seus longos cabelos loiros enquanto seu braço a trazia aquele corpo inocentemente sedutor para junto de si, fazendo seu rosto aproximar-se mais da nuca daquela mulher. Suas pernas, entrelaçadas com as dela, relutavam em se mover, temendo acordá-la. Ainda não queria isso, queria aproveitar mais daquela sensação gostosa que sentia só de estar perto dela, e da vontade de sorrir que ela despertava nele mesmo sem saber.Esperava que ela ainda estivesse dormindo, assim poderia aproveitar um pouco mais daquela sensação de felicidade plena enquanto recordava os momentos da noite anterior.

Uma noite que havia terminado com a entrega de dois corpos apaixonados. Ele havia se surpreendido, não pensara que seria ela que o chamasse para passar o resto de noite com ele. E como recusar um pedido como o dela? A forma tímida de pedir, o rosto pendendo um pouco para a direita, os olhos brilhando e com os lábios contraídos, numa espécie de súplica para que sua vontade fosse cumprida. Uma autêntica cara de criança pedindo um agrado, o que ele nunca recusaria. Mas aquela mesma mulher que lembrava uma criança com traços infantis e angelicais, era aquela que o capturava entre seus braços, como em um desespero por tê-lo e temer perdê-lo. Ele a abraçou enquanto se deliciavam um com o outro. As bocas sorvendo cada milímetro possível do outro, enquanto se dirigiam para o quarto. Cômodo que serviu de testemunha de duas almas unindo-se em um só corpo, juntas por um amor incontestável e expresso por gemidos e súplicas sussuradas, enquanto a noite findava e deixava dois corpos exaustos, mas felizes(completos), descansarem abraçados em cima de uma cama.

Uma noite romântica, era o que ele proporcionara. Um jantar em um restaurante pouco conhecido, mas aconchegante e com uma atmosfera propícia à dar mais encanto à noite do casal. Entre poucas taças de vinho, sobremesas e risadas, ele pôde ter certeza que era ela que ele estava procurando para completar sua vida. Não que ele já não soubesse disso, mas era tão bom confirmar a cada gesto, como o rubor na face após algo dito em seu ouvido. Ou o interesse dela por qualquer coisa, mesmo as mais frívolas, que ele dissesse. A voz suave e o modo com que as palavras saíam docemente de sua boca ao dizer ou comentar qualquer coisa, até mesmo num comentário simples sobre a comida ela conseguia hipnotizá-lo e ele não sabia se prestava atenção, ou se observava,ou melhor,deliciava-se a cada movimento daquela boca, antes de capturá-la em um beijo. E o que dizer dos sorrisos? A cada um que ele recebia, tentava apreciar cada detalhe, os dentes alinhados numa fileira branca e perfeita, o rosto que parecia se iluminar com um simples sorriso, a forma como seu cabelo costumava balançar quando ria timidamente, os olhos um pouco cerrados, com divertimento, e aquela boca... A boca, oh céus! Como observar aquela boca sem sentir vontade de sentir seu gosto?

Sentiu ainda o arrepio e a sensação de borboletas no estômago apenas ao lembrar dos acontecimentos da noite anterior. Se tirasse seus óculos escuros, todos veriam um brilho em seus olhos que não pertencia ao reflexo solar, mas era o espelho de uma alma que enfim achara seu complemento. Continuou seu caminho com o sorriso no rosto, sabia que era o início de uma nova fase de sua vida, como se talvez, somente agora estivesse pronto parar viver, feliz.