sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dancer

Ao som da música eletrônica tocada incansavelmente dentro daquela boate ele mexia seu corpo em uma dança improvisada cujo único objetivo era atrair atenção . Não sabia dançar, nunca soube. Mas tal fato nunca fora impecílio para que ele entrasse naquele local. Afinal, toda a sua vida girava em torno daquele único estabelecimento. E ele continuava a dançar...

Aos dezesseis começara a frequentar a boate escondido dos pais. Usava uma identidade falsa feita por ele mesmo para conseguir entrar e -até então- apreciar o local probido para sua idade. Aos poucos fora se acostumando com as músicas, as pessoas, os empregados até que, a plenos dezenove já era desnecessário pagar sua entrada, mas por outro motivo...

Ainda sem sua maioridade formada, havia começado a experimentar algumas bebidas que lhe ofereciam no bar, um vício perigoso pois sabia que seus pais nunca poderiam desconfiar. Em suas crises de bebedeira, dormia na casa de estranhos para despistar e sempre deixava avisado que faria algum trabalho na casa de algum amigo.

Ainda dentro da boate, foi apresentado às drogas mais leves e, após -rapidamente- ter se tornado consumidor, às mais pesadas. E começara a lidar com o tráfico para consumo e para comércio, pois, por mais abastada que sua família fosse, ele não poderia deixar que soubessem onde seu dinheiro era aplicado. Seus negócios iam bem, mas seu disfarçe não pôde durar.

A mãe foi a primeira a saber, desconfiada após encontrar drogas no quarto do filho, chamou o pai que o obrigou a se internar, ou a sumir de casa. E ele sumiu. Sabendo que seu "emprego" não seria capaz de sustentar a si mesmo, tampouco seu vício.

E partiu para aquela boate onde tudo havia começado. Ali, ele procuraria por emprego e conseguiria. E, de certa forma, ele conseguiu. Entretanto, agora a casa era frequentada por outro tipo de pessoas em busca de uma diversão maior do que dançar ou beber. A infrestrutura também havia mudado e alguns quartos foram instalados no terceiro andar. Um deles seria sua casa, e também seu escritório particular.

E enquanto era vigiado pelos seguranças para não poder mais sair, ele poderia comercializar e ser mercadoria ao mesmo tempo, lucrando uns trocados em troca de sua integridade, orgulho e amor próprio, coisas que há muito tempo já havia perdido. Preso em uma cela que ele mesmo havia procurado, mas da qual sair não estava a seu alcance.

Ao som da música eletrônica tocada incansavelmente dentro daquela boate ele mexia seu corpo em uma dança improvisada cujo único objetivo era atrair atenção . Não sabia dançar, nunca soube. Mas tal fato nunca fora impecílio para que ele entrasse naquele local. Afinal, toda a sua vida girava em torno daquele único estabelecimento. E ele continuava a dançar...