sábado, 5 de setembro de 2009

Nostalgia

O dia já havia chegado e ele ansiara tanto por isso que até as horas contava para que tal dia chegasse. Uma reunião, como as que costumava fazer com os amigos do passado - amigos estes que voltariam para sua casa. Um filme qualquer, várias histórias, pipoca e brigadeiro, risos, felicidade. E ele esperava por isso.

Fazia muito tempo que não se divertia como naquelas antigas reuniões com o pessoal do passado. Amigos de escola que sempre se reuníam na mesma casa para a mesma coisa. E ainda assim a tradição sempre se inovava, sempre tão igual mas tão diferente uma da outra. Tão singular que cada lembrança trazia um sorriso diferente no rosto daquele garoto.

Seus dias estavam tão monótonos ultimamente. Nada de sorrisos, nada de diversão. Só aquele vazio de sempre que a rotina cuidava de preencher. Trabalho, escola. Vez ou outra alguma leitura por lazer, mas o lazer solitário acaba deixando de ser de verdade quando não desperta mais liberdade, e sim clausura. Mas tudo mudaria naquele dia.

O filme já havia escolhido - uma comédia romântica adolescente - e agora era só esperar o som da campanhia que começaria a tocar a qualquer momento. Afinal, seus amigos sempre es atrasavam então nada custaria esperar por mais dez minutos, quinze minutos, meia hora, uma hora.

E eles não chegaram. Os amigos - fantasmas do passado - nem ao menos se importaram de avisar que não viriam e ele ficou só em sua reunião. O filme passava na tela enquanto ele comia a pipoca com um brilho a mais nos olhos. Nostálgico, não lacrimal pois, aprendera sua lição.

O passado fora maravilhoso enquanto passado, os amigos foram imprenscindíveis enquanto amigos - coisa que, com o tempo, deixaram de ser. Mas acima de tudo, a reunião sempre existirá enquanto ele se dispôr a fazê-la.

Aquela mesma felicidade poderia existir novamente, precisava deixar o passado emoldurado num porta retratos para ser admirado com algo bom, mas que já se perdera no tempo. Precisava, sobretudo, livrar-se da segurança que o passado lhe dava e partir para o novo, para os novos amigos, para as novas reuniões, para o recomeço.

Enquanto isso, ele ainda assistia à uma comédia romântica e comia pipoca sentado- arrumado demais para quem está sozinho em casa - no sofá da sala. O brilho em seus olhos não admirava mais o passado, mas ansiava pelo futuro, pelo recomeço.

E tudo mudou naquele dia.