sábado, 17 de outubro de 2009

Chuva

A chuva caía em pancadas fortes que escorriam pelos esgotos ou acumulavam-se nas poças daquela rua. E aquela casa branca, enegrecida pela escuridão da noite, parecia ser tão segura e quente que, vista de fora era o abrigo perfeito para qualquer um que procurasse fugir da chuva. Entretanto estava ele lá, uma figura sentada à porta com o rosto entre os joelhos e abraçando as pernas. Não era um pedinte, era apenas alguém que sofria por amor.

Eles haviam se conhecido por amigos em comum. Ela, a garota dos sonhos para qualquer homem. Inteligente, linda, e com uma personalidade marcante mas sem deixar de perder sua feminilidade encantadora e a alma de uma menina sonhadora e romântica. Ele, nunca havia pensado em se envolver com alguém. De certo que não era por falta de atributos. Um jovem bem apessoado, responsável, estudioso e educado. Mas como todos, tinha seus defeitos. Não era de ninguém, se envolvia apenas por diversão e nunca se comprometia com ninguém. Até encontrá-la.

E eles se encantaram mutuamente e viveram por um bom tempo felizes, se amando e se completando. E ele havia mudado por ela. Sutilmente, mas havia. Toda sua vida de conquistador havia sido deixada para trás e parecia não fazer mais sentido depois de conhecê-la e provar o gosto do amor. E ela o havia visualizado como o homem dos seus sonhos, aquele príncipe encantado com o qual toda menina sonha adquiria mais e mais semelhanças com ele dia após dia. E eles viviam a se completar e a se amar.

Só que a felicidade incomoda a quem não consegue obtê-la. E ela foi dar ouvidos a aqueles que não suportam o amor, ou aqueles que não amam,ou não sabem amar. " Ele é homem, e nunca vai mudar", "...você realmente acha que ele deixaria de curtir como antes por sua causa?", "você seria muito burra se acreditasse que ele não está te traindo". E o ácido veneno contido nas palavras pode transformar em ruínas os mais fortes castelos. Também acabara de arruinar os sonhos daquela que agora sofre do lado de dentro da porta de madeira, após expulsar seu amado príncipe de seu refúgio, agora solitário.

Ele ainda havia tentado se explicar, dizer que não era verdade, mas foi em vão. Ao ouvido dos inseguros, mais valem palavras de estranhos do que aquelas de quem se ama. E ele desistira de tentar convencê-la, estava ferido também, afinal, mudara tanto por ela e ela não conseguia enxergar todo o processo!? Ele apenas queria abraçá-la e fazê-ela sentir o calor de seus braços, e com esse calor fazê-la descobrir a resposta. Mas ela não queria, e o mandou embora de sua vida.

Ela agora, recostava-se na porta e encarava a parede enquanto as lágrimas escorriam por seus olhos. Ouvia apenas a batida desesperada daquele homem se silenciar, dando vez ao som da tempestade. Tempestade que a invadia por dentro e pesava em seu coração. Logo ele que ela tanto amava, logo ele que a amava tanto, "por quê isso?". "Será que eu fiz a coisa certa?". "Ele foi tão bom comigo esse tempo todo" "...ele nunca fez nada do que elas disseram". E as palavras que brotam da alma devem ser colhidas e usadas para consertar os erros da vida.

Mas ainda chovia lá fora....

E ele ainda estaria ali, plantado na porta daquela casa enquanto a tempestade agredia seu corpo. às vezes sentia vontade de um raio acertá-lo e acabar com seu sofrimento. Talvez conseguisse se sentir menos culpado se algo assim acontecesse. Os erros do passado são postos à parte quando se renasce, e ele havia renascido por amor. Mas ainda não conseguia enxergar a razão de tudo voltar à tona justo quando ele havia percebido que tinha feito a coisa certa. Já não sabia se era tão certa assim mais...

...Mas a vida sempre mostra, e recompensa, quando se faz a coisa certa, e pelo motivo certo. E agora, estava ele voltando sua cabeça para a porta, após escutá-la se abrindo. Seus olhos encontraram os dela, que estavam avermelhados e continham uma súplica de perdão e algumas lágrimas de arrependimento.

...

-- Vem Pedro, sai dessa chuva, amor...